Eu penso que uma boa história, bem contada, não tem público definido; é para todos. Grandes escritores como Maurice Sendak e Edward Gorey corroboram esta ideia quando afirmam que não escrevem para crianças, mesmo que tenham publicado livros chamados infantis. Um dos principais motivos de eu adorar (boa) literatura infantil é que as histórias, ilustradas e com frases simples, falam a qualquer idade. Pode ver: se você pegar um livro infantil com uma história boba, vai dizer imediatamente ‘este livro é para crianças’. Mas quando encontramos um livro que, apesar da aparência, conta uma história que nos faz pensar ou nos emociona, aí sim estamos diante de boa literatura e temos dificuldade em classificá-lo simplesmente como ‘infantil’.
Uma história emocionante consegue, de modo simples e direto, chegar ao nosso coração. No caso da literatura infantil, ela chega, além de tudo, de surpresa. Dificilmente alguém abre um livro para crianças pensando que vai terminar a história aos prantos, mas não raro isso acontece. E são esses os livros que eu mais gosto! ❤
Por isso, fiz aqui para vocês uma listinha com 3 títulos que arrancam lágrimas dos meus olhos todas as vezes que os leio:
A árvore generosa
(Shel Silverstein, Cosac Naify)
Meu livro do coração: conta a história da relação entre um menino e uma árvore ao longo do tempo, e como as necessidades do menino mudam enquanto cresce e sobre felicidade. É uma história tão bem contada que tem uma profundidade temática vertical ímpar: num nível, trata de ecologia e da relação do homem com a natureza; noutro, aborda a busca interminável do homem por uma felicidade constantemente fora de si, uma insatisfação eterna com a vida; num nível mais profundo, contrasta o apego e a generosidade e discute o que é o amor incondicional. E foi este viés que me pegou. Depois de me tornar mãe, eu passei a entender a árvore do livro e sei que você também vai se identificar com ela.
Mamãe zangada
(Jutta Bauer, Cosac Naify)
Um livro pequeno que conta, nem uma história, mas um momento: o que acontece com o pinguinzinho quando sua mãe se zanga e grita com ele. A autora absolutamente se propõe a debater os malefícios de se perder as estribeiras com nossos filhos, nem a sugerir outras formas de criação. Ela simplesmente descreve metaforicamente o que acontece com o pinguinzinho no momento em que sua mãe lhe dá uma baita bronca. E isso é tudo que basta para uma mãe como eu se desfazer em milhões de caquinhos ao me colocar no lugar da mãe-pinguim.
Fico à espera…
(Davide Cali e Serge Bloch, Cosac Naify)
O livro perfeito para entender como a gente não vive no presente. Desde que minha primeira filha nasceu, eu me dei conta de quantas vezes penso em como as coisas vão ficar melhores (ou mais fáceis, ou mais divertidas) quando… e aí pode inserir qualquer coisa: quando ela começar a falar, quando sair das fraldas, quando aprender a andar, quando trouxer lição de casa, quando for para escola sozinha, etc. etc. Não que a fase do presente não seja boa, mas certamente quando tal coisa acontecer tudo vai ser melhor. E assim a gente passa os dias, esperando por aquela coisa que vai acontecer, não agora, mas em algum momento futuro. E é também por isso que, de vez em quando, a gente olha para trás e se assusta com o quanto o tempo passou! Parece que a gente nem aproveitou: olha lá, faz tanto tempo que a Elis não é mais um bebezinho. Era tão gostoso aquele cheirinho, aquele olhar, aquela risadinha…