Reabitar-se

O reencontro da mulher com seu corpo na maternidade

por Luciana Kater

Reabitar-se

O período da gestação é um dos momentos mais mágicos na vida de uma mulher, sem dúvida. No aspecto emocional, a chegada de um novo ser que vem chacoalhar com toda sua estrutura é capaz de gerar toda uma série de reflexões a respeito do tema, desde o resgate da relação com a mãe, a cultura sobre o parto e a vida natural, relação com o parceiro depois do nascimento de um bebê, tempo e carreira etc.

Mas tem um aspecto que eu gostaria de dar particular atenção, que é a relação com o corpo. Nos 9 meses de gestação, o corpo da mulher passa por uma transformação impressionante. Células se multiplicando rapidamente, hormônios sendo produzidos, a bacia abrindo espaço para acolher e gerar um hóspede que vai usufruir 100% dessa fantástica acomodação.

Não há motivo maior de orgulho para uma mulher saber que ela é responsável pelo bem estar e formação dessa criatura. E não há mesmo generosidade maior na natureza do que esse período. Durante uma vida inteira você foi responsável unicamente pelo seu próprio desenvolvimento, bem estar e cuidado, e de repente o mesmo corpo se desdobra em dois para dar conta dessa linda tarefa.

É uma fase em que a mulher volta ao seu estado mais natural, primitivo, visceral. Seus sentidos ficam mais apurados, suas sensações à flor da pele, há quem diga até que elas desenvolvem um aspecto quase sobrenatural de percepção do que está ao redor. Em outras palavras, a mulher vira uma ‘leoa’, que cuida da cria com todo seu instinto animal.

Para mim, que trabalho com terapias corporais, não pode haver um período mais bonito e verdadeiro que este na vida de uma mulher. Estar completamente presente no corpo, nas sensações, nas emoções, é o estado em que quero fazer chegar todos os meus pacientes: habitar-se completamente, estar em sintonia com o próprio corpo, com sua própria casa, com sua natureza.

O que tenho observado com a maioria das minhas pacientes mães é que esse estado de atenção plena ao seu corpo acaba sendo transferido ao bebê assim que ele nasce. Claro, é natural e saudável, afinal o bebê necessita, sim, 100% da atenção da mãe no início de vida. Mas o que acontece é que, a partir desse momento, começa uma separação entre o seu corpo e o do bebê, e a atenção voltada exclusivamente para o filho faz com que ela esqueça que tem um corpo que ainda precisa e requer atenção.

A grande questão é como dar ao bebê toda atenção de que ele precisa sem negligenciar o próprio corpo? (E aqui, não me entendam mal, não estou falando em voltar à forma física de antes! Me refiro ao cuidado saudável e essencial ao próprio corpo) Quando voltar a se perceber novamente? Quando voltar a reabitar o seu corpo?

Para cuidar do bebê, a mãe precisa de um corpo saudável, alimentado, descansado, forte, vivo. A relação de dependência continua, então para poder cuidar, a mãe precisa ser cuidada. Todo o entorno precisa estar favorável para que a mulher possa desempenhar seu papel da melhor forma possível.

Muitas mães me procuram quando seus filhos já têm pelo menos 1 ano de vida. Nessa fase em que a criança já está mais independente e a mãe já pode passar um pouco da responsabilidade ao pai ou outro cuidador, é quando ela começa a voltar a atenção para si novamente. Porém, nesse período a mulher já desenvolveu, muitas vezes, diversas dores crônicas de carregar o filho, amamentar e dormir mal.

O trabalho corporal, desenvolvido o quanto antes, ajuda a mulher a não perder o forte vínculo com o corpo que ela desenvolveu nos meses de gestação, a preservar a sua capacidade de escuta com ela mesma, e principalmente se manter vitalizada, presente e equilibrada.

Segundo Winnicott, pediatra e psicanalista inglês que desenvolveu toda sua teoria baseado no vínculo mamãe e bebê nos primeiros anos de vida da criança, diz que a mãe tem, intrínseca a ela, toda a capacidade de cuidar de seu filho da melhor maneira possível, mas, para isso, ela precisa ser cuidada e precisa que o seu entorno tenha toda as condições favoráveis para que isso aconteça.

Trabalhando com essas jovens mães, percebi que esses momentos de cuidado e atenção devolveram a elas uma energia e uma calma que tinham perdido depois de tanto tempo de extrema dedicação ao bebê. Também notei que reconquistaram uma sensação de equilíbrio, de organização e autoconfiança que estava abalada.

Esse retorno aos seus corpos, ao próprio eixo, é muito importante no momento que a mulher começa a se reorganizar com relação a rotinas, pensar no retorno ao trabalho e reavaliar as mudanças que viveu nos últimos meses.

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